Em teoria somos seres evoluídos. Nós temos a tecnologia ao nosso favor, a literatura está cada vez mais em ascensão (mesmo que o consumo de livros possa ser menor, devido a tantas outras opções de entretenimento).; Porém temos tantos outros problemas sociais que as distopias clássicas parecem estar cada vez mais próximas de acontecer e, em alguns casos, até parece já estar acontecendo.
É de conhecimento de qualquer leitor o livro Fahrenheit 451, onde o protagonista é um bombeiro que queima livros. Uma sociedade totalmente alienada pela tecnologia — o livro foi publicado pela primeira vez em 1953 e nesta época as pessoas não faziam ideia de onde a tecnologia chegaria, portanto é bom frisar que para nós ver as cenas onde a esposa do bombeiro conversa com os parentes em algo que parece ser uma televisão é banal, mas para eles era uma grande novidade — e que vê os livros como uma ameaça. Em uma época pós 2ª Guerra Mundial não é muito difícil imaginar o porque do autor ter cogitado esse tema para seu livro, já que é bom relembrar que lá em 1933, na Alemanha Nazista, houve uma grande queima de livros que eram considerados fora dos padrões da ideologia nazista. Grandes autores e pensadores fazem parte da lista, dentre eles Thomas Mann, Freud, Einstein, Marx e Nietzche (não vamos esquecer que essas pessoas ainda são odiadas por algumas ideologias politicas). O pior de tudo é que a opinião pública e até a mídia ignoraram isso. No entanto é difícil dizer com certeza se foi por medo ou concordância. Então qual o motivo de tanta surpresa ao saber que um livro foi censurado e/ou proibido?
Vivemos em uma ilusão de liberdade. Nós passamos acreditar que podemos fazer o que queremos, que podemos ter autonomia com nosso próprio corpo e a liberdade de escolher quem iremos amar ou simplesmente transar. Nós chegamos em um ponto em que estamos alienados ao refletir sobre todas as consequências que a vigilância das mídias sociais nos dá (e ai já vamos entrar em 1984, que não é o assunto deste post). Nós simplesmente ignoramos o fato de que não temos controle de nada em nossas vidas. Muito menos dos livros que lemos.
Um bom exemplo disso foi o que houve na Bienal Internacional do livro que, este ano, aconteceu no Rio de Janeiro. Não vou estender a noticia, mas todos sabem que diz respeito do Crivella criticando um livro que contém um beijo gay e querendo, assim, censura-lo como conteúdo pornográfico. O tiro saiu pela culatra, pois além do livro esgotar em 40 minutos certo ytuber distribuiu cerca de 10k livros lgbtq+ no evento.
O que poucas pessoas perceberam é que não se trata apenas de uma censura a um livro lgbtq+ e sim a toda arte que temos disponível nos dias atuais. O que começou com um livro vai a todos os conteúdos que gostamos de ver na internet, visitar em uma galeria, conversar com os amigos. A ditadura, às vezes, não é colocada nas nossas vidas do dia para a noite e sim devagar. A queima de um livro não precisa ser literal em uma praça publica, mas sim sua retaliação na internet ou o boca a boca dentro de uma igreja. O que o tal prefeito fez foi sim uma queimação de livro, assim como tal governador do estado de SP fez na mesma semana com livros didáticos.
Como seres humanos, e passiveis de erros, temos uma grande responsabilidade de nos "vigiar" e como leitores devemos nos impor — assim como feito no caso da Bienal, mas fazem em todos os casos de censura — para que seja evidente que não somos idiotas, e que acima de tudo todo esse conhecimento que os livros nos trouxe é uma recompensa maravilhosa. Além do mais há a responsabilidade social de nos reconhecer como seres imperfeitos e em constante aprendizado. Mais do nunca é hora de se juntar.
OBS História:
Também houve uma queima de livros brasileira. Em 1937 Getúlio Vargas censurou algumas coisas por se tratar, segundo ele, de apologia ao comunismo.
Quando eu li esse livro, eu não sabia o que fazer, de verdade mesmo.
ResponderExcluirEu lembrei na hora da queima de livros de 37, me deu uma dor no coração. E realmente eu fico muito assustada quando vejo que as distopias e ficções estão mais perto da realidade do que a gente pensa. Quando eu li A Revolução dos Bichos, eu fiquei arrepiada de tanta coisa atual que tem ali, e o negocio foi escrito na época de Stalin.
Amei seu texto, muito lindo!
Olá, tudo bem? Ainda não li esse livro, mas tenho bastante curiosidade. Adorei tua reflexão, realmente o que temos é apenas uma ilusão de liberdade, o que é assustador. Isso que aconteceu na Bienal do Rio foi absurdamente chocante, não tenho nem palavras para descrever.
ResponderExcluirBeijos,
Duas Livreiras
Eu ainda não li esse livro, mas ele trata assuntos tão importantes e deve trazer inúmeras reflexões. Sua resenha realmente me deixou curiosíssima e infelizmente é como você disse: "não temos controle de nossas vidas". Com certeza quero ler essa obra.
ResponderExcluirBeijos,
Blog PS Amo Leitura
ótimo texto! Como você disse, temos que nos manter vigilantes porque ao contrario do que muita gente pensa, uma ditadura não começa de repente da noite pro dia e sim aos poucos. Hoje é uma HQ que segundo eles é um perigo para as crianças, amanhã é nosso direto de pensar, de falar e fazer o que quiser. É por isso que livros assim são tão importantes ainda nos dias de hoje.
ResponderExcluirBeijos!