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Resenha: Infiltrado na Klan

25/06/2021

 


Olá, leitoras. Infiltrado na Klan foi um dos últimos livros que tive o prazer de ler. Ele conta a história de Ron Stallworth, um policial negro que nos anos 70 conseguiu se tornar membro da KKK em uma investigação. Parece bem estranho que isso tenha ocorrido, né? Mas é uma história e tanto, que até já foi adaptada para o cinema com direção de Spike Lee.

Pode parecer mas o livro não é uma biografia. O foco é apenas a investigação relacionada ao KKK e em como foi para os policiais envolvidos conseguir esconder a verdadeira identidade de Ron, já que para começo de conversa ele acabou dando o seu verdadeiro nome para Ken O'Dell (o então lider na cidade de Colorado Springs). Ron foi o primeiro policial negro nessa cidade e nos anos 70 isso era um grande desafio, mas ele nunca abaixou a cabeça para seus opressores e sempre trabalhou acreditando na igualdade dos homens. Após alguns meses como oficial de arquivo ele acabou conseguindo uma investigação infiltrado, que foi justamente durante um evento em que um membro dos Panteras Negras iria discursar para um grupo de estudantes e comunidade negra na cidade. Essa é uma parte em que já podemos ver como Ron pensa e, para mim, é um pouco inocente. Por ele acreditar na igualdade algumas vezes ele não enxerga de verdade a luta que as pessoas negras tem que travar com as pessoas brancas e racistas para conseguir seu lugar. Algumas vezes eu fiquei com um pouco de raiva dele, mas até entendo que naquela época ainda eram poucas pessoas que protestavam contra o racismo e como ele oprime em todos os sistemas da nossa sociedade.

Se um homem negro, auxiliado por um punhado de brancos e judeus bons, decentes, dedicados, de mente aberta e liberais, pode conseguir prevalecer sobre um grupo de racistas brancos, fazendo-os parecer idiotas, ignorantes que realmente são, então imagine o que uma nação de indivíduos que compartilham das mesmas ideias pode conseguir.

O livro é bem curto, então ele chega muito rápido naquela que estamos curiosas para ler: como ele conseguiu se infiltrar na Klan e como foi sua investigação. Ron encontra um anuncio do grupo no jornal e decide entrar em contato. Naquela época tudo era feito por correspondências e telefone, então demorou alguns dias até ele receber um contato e ao conversar com Ken O'Dell por telefone ele logo cometeu o erro de dizer seu verdadeiro nome e marcar um encontro com o líder regional. Claro que ele não poderia ir no encontro, então acabou chamando o investigador Chuck para ir em seu lugar. A ideia parece toda absurda e que nunca iria dar certo nos dias atuais, mas funcionou muito bem para esse pequeno grupo.

Muitas situações divertidas acontecem, pois é um grande sabor rir do quanto homens brancos, racistas e que se acham superiores, conseguiram ser burros ao não reparar que as vozes era diferentes, por exemplo. Ao contrário do filme no livro não há situações muito óbvias para eles descobrirem a verdade, então é muito legal ver o quanto a equipe conseguiu ser cirúrgica nessa investigação. Ele conseguiu a carteira de membro da KKK, quase se tornou líder regional do grupo, e ainda tirou uma foto abraçando o líder do país naquela época. Sério, é livro que não tem como não ser divertir, e que bom que ele conseguiu deixar o clima todo menos pesado. Honestamente eu não consigo nem imaginar as coisas que ele deve ter ouvido esses homens falarem e todas as coisas que eles queriam fazer.

Tradicionalmente, a queima das cruzes ou "cerimônia de incendiar cruzes" é considerada uma celebração religiosa. Atear fogo num símbolo religioso nunca foi visto pelos membros da Klan como um sinal de profanação; sempre foi encarado como uma representação honrosa de sua fé e crenças cristãs. Mas, ao longo da história, eles usaram isso para causar terror naqueles que temiam a força e a tira da Klan. Em outras palavras, desde a sua fundação a KKK e seus membros dedicaram-se a causa do terrorismo doméstico.

Eu indico muito esse livro para quem gosta dessa temática e ele é ótimo para conhecer um pouco mais da situação social dos norte-americanos negros naquela época de uma forma diferente do circulo dos Panteras Negras. Ainda mais por ele ser um policial, um símbolo de opressão, há lados da moeda que nem sempre é debatida. E o filme, mesmo com as diferenças, é uma excelente adaptação das principais situações de Ron e Chuck.

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Título: Infiltrado na Klan (Black Klansman) • Autor: Ron Stallworth
Tradução: Jaqueline Damasio Valpassos • Editora: Seoman

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Resenha: Confesso: a autobiografia

03/05/2021

 
Rob Halford é vocalista de uma das bandas de metal mais importantes da Grã-Betanha: Judas Priest. Prestes a completar 70 anos de idade ele nunca imaginou passar por uma pandemia que o impossibilitasse de fazer o que ele mais ama: estar nos palcos perto de seus fãs. Mas esse período infinito em que estamos vivendo o fez revirar suas memórias e confessar seus pecados nesse biografia, em que ele conta detalhes sobre sua vida pessoal que, provavelmente, nenhum fã fervoroso da banda saiba. Eu não me considero fã do Judas Priest, porém cresci ouvindo bandas que foram inspiradas por eles e que me mostraram o que é adorar uma banda e ser uma headbanger, portanto não há como negar a importância deles para a formação do meu gosto musical e mais do que isso a importância da representação de Rob Halford para o metal. Além de ser um cantor excepcional, e eu convido vocês a ouvirem algumas músicas após a leitura do post, sua história de vida é de deixar qualquer pessoa perplexa e, muitas vezes, duvidando como que ele conseguiu chegar até aqui.

Ele cresceu em uma pequena cidade próxima a Birmingham, na Inglaterra. Já no inicio do livro ele descreve esse lugar, que era uma cidade industrial, com o cheiro e o gosto do metal. Sua infância foi tranquila, mesmo com as brigas de seus pais ele diz que não carrega nenhum trauma em relação à isso, com exceção do seu medo de confrontamento. A vida de Rob começou a mudar quando ele percebeu, ainda com 10 anos, que é gay. Mesmo tendo plena consciência da sua sexualidade ele não entendia muito bem o que é ser um homem gay na sociedade, qual era o seu papel, e em algumas situações de abuso muitas vezes ele se questionou isso. "É isso que é ser gay?" se referindo à um homem mais velho que abusa de vulnerabilidade de outro mais jovem. Rob conta no livro todas as suas descobertas e relacionamentos que ele teve ao longo da vida, desde o primeiro bar gay, a primeira revista lgbt e o primeiro glory hole [buracos estrategicamente posicionados para que homens pudessem fazer sexo oral em banheiros públicos, muito comum na época], que inclusive se tornou um hábito que ele fazia sempre que estava na estrada.

Muito além de sua vida pessoal o livro conta um pouco da história da banda através das gravações dos álbuns e relatos da turnê, inclusive turnês na América do Sul onde ele relata sobre um estrelismo de Axl Rose no Rock in Rio II, em 1991. Para quem escuta a banda há anos deve ser muito bom ler relatos sobre algumas das composições mais importantes do cantor e poder saber, de fato, o que elas significavam para ele na época. Também é interessante ver todos os problemas que aconteceram com alguns álbuns para não ter sido muito bom, na critica e nas vendas. Rob não poupa o seu fã ao contar as verdades, mesmo que ela não seja boa de ler. Uma das melhores coisas para mim foi ver o carinho que ele tem por seus companheiros, da mesma forma que eles tem por Rob. Isso fica claro ao percebermos que mesmo que Rob nunca tenha contado, por muitos anos, sobre sua sexualidade, e que fosse óbvio para todos, eles sempre o trataram como igual, respeitando suas composições, sua vida pessoal e muitas vezes tendo que conviver com os amantes tóxicos do cantor. Claro que isso é o mínimo que esperamos das pessoas, mas considerando que é os anos 80 e eles são uma banda de metal (que tem uns fãs muito tóxicos, ainda nos dias atuais) é de acreditar que nada está perdido ainda. E acho que nem preciso falar do quão importante esse homem é para os fãs lgbtqia+ do metal, né? Eu gostaria de ter tido idade suficiente em 1999, quando ele se assumiu em plena MTV, para entender a importância que tem.
Quando você vive no armário, quando vive uma mentira, passa todos os dias da sua existência tão tenso e reprimido, que, quando enfim sai dele, recebe uma explosão de sinceridade e clareza.
Rob Halford conta aqui um pouco sobre todas as fases de sua vida e todas as consequências que isso trouxeram para ele, mas não apenas de coisa triste sua história é feita. Apesar de relacionamentos fracassados e o alcoolismo ele passou por coisas muito boas em sua vida e é grato por isso, é grato a banda por isso. Gosto de ler biografias para ver essas fases das pessoas ali retratadas e entender o que tal atitude representou e no caso de Rob eu quis compreender muito mais como foi para ele ser gay em um universo tóxico como o metal. Então ler tudo o que ele conta no livro, sua ruina por ter que se esconder por tantos anos, e vê-lo hoje em dia em seu Instagram sendo tão livre, usando salto alto ou com a bunda de fora, é simplesmente maravilhoso. Eu já admirava o cantor pelo seu talento, seja no Judas Priest ou nas participações que ele fez em músicas de bandas que eu adoro, hoje eu admiro também a pessoa. Vou torcer para que essa pandemia acabe logo para que Judas Priest possa vir ao Brasil com uma de suas turnês e, mais vez, Rob se impressione com o fanatismos do público latino-americano.
 
Antes de finalizar eu preciso falar que adoro o clichê Rob Halford fã de diva pop ♥. Ele conta sobre quando foi no show da Lady Gaga e quando soube que ela é uma grande fã do Judas Priest. Eu vejo essas coisas já fico doidinha esperando um feat um dia. E umas outras fofoquinhas e encontro de pessoas famosas (nada muito polêmico, o cara não quer ser processado, né kkk).

🤘🏻

Título: Confesso: a autobiografia (Confess: the autobiography) • Autor: Rob Ralford & Ian Gittins • Tradução: Paulo Alves • Editora: Belas-Letras

livro cedido pela editora Belas-Letras para resenha

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Resenha: Minha História para Jovens Leitores

09/04/2021

 

Minha História para Jovens Leitores Livro de Michelle Obama
Há algum tempo a Companhia das Letras lançou a autobiografia da Ex-Primeira Dama estadunidense Michelle Obama e o livro se tornou um best-seller muito rápido. Na época eu trabalhava na livraria e vi muitas pessoas procurando por essa livro e tantas outras que por indicação compravam e se apaixonavam. Então levada pela curiosidade (e falta de oportunidade de ler o original) eu aceitei receber esse novo exemplar do livro voltado para o público adolescente (Mas não se engane, ele tem basicamente a mesma quantidade de páginas). O texto foi adaptado para jovens leitores, mas apesar de mudar a forma de contar a história de Miche, como é carinhosamente chamada pelos familiares, é um só e ela conta aqui.

Como já havia acompanhado em Eu Sei Por Que o Pássaro Canta a Gaiola ser uma mulher negra nos EUA não é fácil e, apesar de ter tido uma vida melhor que de Maya e muitos aspectos, ainda assim a jovem Miche e posteriormente a conhecida Michelle Obama precisou se provar o tempo inteiro. Carregando um mantra durante toda a sua via [Eu sou boa o suficiente? Sim] ela tentou se cobrar menos para ter o seu lugar no mundo, primeiro na escola primária, depois da escola mais "chique" da qual conseguiu uma vaga muito concorrida, nos processos de inscrições para universidade até chegar em Princeton onde ela achou que estava por causa de algum tipo de cota e não por sua capacidade.
(...) relações e privilégios dão vantagens a algumas pessoas sobre as outras.
A família de Michelle sempre valorizou muito a educação. Seus pais entendiam bem que as oportunidades que eles não tiveram precisavam dar a seus dois filhos e foi o que eles fizeram, sem pensar em valor de mensalidades ou o que faltaria para eles para isso. Michelle sempre valorizou muito isso e procurou passar isso também para suas filhas, mesmo com elas crescendo na Casa Branca e tendo tudo o que quisessem as mãos, Michelle e Barack sempre fizeram questão de ensinar valores para as meninas. Gosto muito que Miche não procura ser um grande ícone, seja das mulheres negras ou do feminismo negro, mas ela entende a importância que sua família e seu título tem em toda a comunidade negra não apenas estadunidense como do mundo todo. Por 8 anos ela carregou esse título com responsabilidade e procurou tirar o melhor dele, fazendo ações para a educação feminina e alimentação saudável para crianças. E mesmo com todas as suas boas ações ela foi constantemente julgada pelos adversários políticos de seu esposo e viveu com medo de tudo isso recair sobre os ombros das filhas.

A história dela é muito importante para os tempos em que vivemos, principalmente após o fato de a politica andar alguns passos para trás com a eleição de Trump nos EUA e de certa pessoa aqui no Brasil (uma coisa leva a outra, afinal). Mesmo que hoje há uma guerra politica acontecendo os Obama's sempre serão a primeira família negra que morou na Casa Branca, com Barack sendo o primeiro Presidente negro e Michelle a primeira Primeira-Dama negra e isso é muito importante historicamente falando, já que o EUA tem uma história de escravidão e racismo tão forte quanto nossa (inclusive indico muito o documentário da Netflix "13ª Emenda" que fala um pouco sobre isso).

Este é um livro importante que eu indico para todas as idades, mas claro que se você for uma leitora mais experiente indico a primeira versão da obra (que ainda pretendo ler). Ele fala um pouco sobre sonhos, importância de saber quem você é e onde quer chegar, claro que um pouco dos bastidores da politica e algumas curiosidades sobre a Casa Branca.

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Título: Minha História Para Jovens Leitores (Becoming: Adapted for Youg Readers) • Autor(a): Michelle Obama • Tradução: Débora Landsberg, Denise Bottmann, Ligia Azevedo e Renato Marques • Editora: Seguinte

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Segurando o livro nas mãos

Eu nunca me considerei uma leitora contemplativa e não sei até que ponto isso me prejudica ao ler um livro que tem uma escrita totalmente contemplativa. Eu percebi isso em todos os momentos em que li No Fundo do Oceano, Os Animais Invisíveis da autora Anita Deak. Esse não é um livro que só deve ser lido, ele é uma obra em que você precisa estar totalmente imerso naquilo que a autora está criando para, assim, conseguir entender a trama no meio da narrativa proposta.

O livro nos apresenta ao personagem Pedro Navas e mesmo não tento uma narrativa linear é possível identificar quatro fases diferentes de sua vida: a infância na fazenda da família, adolescência e vida adulta na cidade grande e por fim quando ele passa usar o pseudônimo de Lucas durante o Regime Militar. Para mim a maior dificuldade não está relacionada com a história não seguir uma linha do tempo e sim com o texto inteiro corrido, mal tendo espaço para pontuações. Os diálogos são todos juntos, separados por vírgulas e causando assim um desconforto. Não sei se ela tinha essa intenção ao usar esse artificio, mas para leitores que não estejam habituados pode ser bem ruim de inicio. Conforme as fases da vida do narrador vão mudando a narrativa foi me confundindo mais, já que ele voltava a lembranças da infância, falava de uma pessoa e logo em seguida já estava falando de outra, da mesma forma que em poucas palavras mudava o ambiente em que as coisas estavam acontecendo. Para mim foi bastante complicado conseguir me situar na história e é até estranho falar assim pois o livro tem 190 páginas que da para ler em dois dias.

Se eu falo uma palavra e meu pai ouve diferente do que eu quis dizer, para onde vai a minha palavra?

Além da dificuldade com a narrativa eu me senti bastante incomodada com algumas outras coisas que foram introduzidas ali. Eu sempre me incomodo com livros que tenham estupro, pedofilia e racismo. Sim, o livro se passada nos anos 50 e 60 em sua grande parte e nessa época as coisas eram diferentes, mas sendo o livro uma obra de ficção poderia ter a sensibilidade ao abordar esses temas. Vou dar como exemplo A Casa dos Espíritos, da Isabel Allende (que eu li recentemente) pois tem algumas semelhanças nesse aspecto: A diferença de abordagem das duas autoras é que Allende falou sobre isso de uma forma chocante e critica, e em No Fundo do Oceano foi só um fato jogado na história que não pareceu ter relevância para todo contexto. Não foi algo que Pedro levou para a vida com arrependimento, ou que tenha sentido algo errado. De fato após estuprar sua namorada ele nem se da conta de que aquilo é errado e leva a vida como se nada tivesse acontecido sem entender o motivo que a fez parar de falar com ele por meses.

Apesar de não ser um romance histórico o livro mostra um fato que ocorreu no Araguaia durante o Regime Militar: A resistência dos camponeses de Araguaia. Lucas ao ingressar na faculdade passou a conhecer sobre o comunismo, tão longe de sua realidade na fazenda da família, e acabou se juntando ao movimento estudantil que posteriormente foi afetado pela ditadura com torturas e mortes e para atuar na milícia ele passou a usar o nome de Lucas, entretanto após ser descoberto e preso ele ficou exilado em um pequena cidade/fazenda com outros guerrilheiros e em momento crucial na trama são descobertos e um embate ocorre entre eles. Apesar de Pedro não ser baseado em um personagem real esse fato realmente aconteceu [você pode ler mais aqui].

Este é um livro para poucos. Li algumas opiniões sobre ele que divergem totalmente da minha e que exaltam a qualidade da autora ao criar essa obra, então justamente por isso acho que é importante cada um ler e ter sua própria opinião sobre o livro. 

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TítuloNo Fundo do Oceano, Os Animais Invisíveis • Autora: Anita Deak • Editora: Reformatório

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Em 2018 eu pude ler Eu Sou Malala, a autobiografia de Malala Yousafzai, e me apaixonei pela história da jovem que lutou (e continua lutando) para a educação de meninas em locais onde somos proibidas de estudar. Com o lançamento da versão infantojuvenil eu fiquei animada para poder falar deste livro por aqui, já que na época em que eu li não fiz resenha no blog.

Malala hoje tem 23 anos e mora na Inglaterra com sua família, como exilados e com muita saudades de casa: Paquistão. Quando Malala ainda era criança seu país foi dominado pela milícia talibã que usaram as palavras do Alcorão para impor regras como a proibição de músicas e televisão. Todas as mulheres deveriam se cobrir (só deixar os olhos a mostra), os homens deveriam usar roupas especificas e não podiam mais cortar o cabelo e a barba, além de proibir todas as meninas de frequentarem a escola (a priori meninas de qualquer idade e posteriormente meninas com mais de dez anos). O uso de palavras religiosas para impor regras não acontece somente com o islamismo, nós vemos isso acontecendo a todo momento no Brasil que é um país que tem 50% de seus habitantes declarados como católicos e 31% declarados evangélicos. O preconceito com os islamismo foi o primeiro preconceito que Malala quebrou em mim, pois o que mais ouvi (principalmente depois de 2001) foi que muçulmanos são todos terroristas, que eles são todos machistas, e tantas outras coisas que eu tenho certeza que você também já ouviu. Malala conta sobre sua religião com tanto amor e devoção que me senti triste ao pensar que alguns radicais conseguiram estragar todas as percepções que os ocidentais poderiam ter sobre ela.

Uma das coisas mais lindas é sobre a admiração que ela sente por seu pai que desde pequena a incentivou a estudar e erguer sua voz, enquanto alguns de seus conterrâneos tinham visões ultrapassadas sobre o papel da mulher na sociedade. Ela soube e entendeu desde muito cedo o quanto é privilegiada por ter um pai que não a reprimia por ser mulher. Então quando o talibã passou a ditar as regras no Paquistão, apesar do medo, ele sempre ajudou Malala e falar em nome da educação feminina sendo um exemplo para todas as suas amigas de escola e algum tempo depois sendo exemplo para seu país, já que seus discursos ficaram conhecidos e seu blog para a BBC tomou proporções que eles não imaginavam. Todos os detalhes sobre a história da família dela são contados em Eu Sou Malala, já em Malala ela conta só um pouco sobre o incentivo que seu pai a deu e sua importância para quem ela viria se tornar.

Considero essa uma leitura importante para todas as idades (cada livro com seu público alvo), pois nos ensina valores que parecem diferentes dos nossos, pela cultura e religião, mas que na verdade são tão semelhantes em sua essência. Malala ainda luta pela educação feminina em lugares que são dominados por valores arcaicos onde mulheres não podem estudar e nasceram unicamente para o dever de cuidar da casa e dos filhos desde jovem e hoje é formada em Filosofia, Ciência e Economia pela Universidade de Oxford e quando quando foi atacada por covardes, voltando da escola, nunca poderia imaginar que chegaria em uma das melhores universidades do mundo.

Essa edição é super especial, pois tem como público-alvo crianças de 8 a 12 anos e possui ilustrações importantes de uma momento da vida de Malala. A história dela é triste, mas linda e essa edição ensina algo as crianças que terão a oportunidade de ler e eu garanto que em nenhum momento terá detalhes do que houve com ela no ataque (da mesma forma que não há em Eu Sou Malala, pois a própria Malala pouco se lembra do que aconteceu). Esse livro é o presente perfeito para qualquer época do ano e, na minha opinião, deveria ser leitura escolar  já que tantas coisas podemos aprender com essa biografia.

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Resenha: Narciso em Férias

04/01/2021



Narciso em Férias, de Caetano Veloso, era um capítulo da autobiografia do autor, Verdade Tropical, também publicada pela Companhia das Letras. A ideia de torná-lo um livro separado partiu do próprio Caetano, não só por ser uma construção literária muito querida por ele, mas também por dizer muita coisa sobre o momento político brasileiro atual. Eu quis ler essas lembranças meio que por curiosidade, por gostar muito das composições dele... Mas como não me animar diante dessas palavras?

Nas quase 168 páginas desse livro, Caetano Veloso narra com detalhes os 54 dias em que ficou preso durante a ditadura militar. Ele foi preso em 27 de dezembro de 1968, e os motivos da sua prisão nunca ficaram exatamente claros, não havia, de fato, nenhuma justificativa oficial - ação que hoje nós carinhosamente apelidamos de abuso do poder, rs.

Acho que não sou a única pessoa a se questionar como aconteciam essas detenções, o que acontecia nas prisões de fato, naquela época. Sabemos que muitas pessoas foram mortas e torturadas física e psicologicamente... E eu sinceramente nem sei se gostaria de saber detalhes sobre isso... Mas fato é que o relato de Caetano Veloso foi suficiente para eu entender pelo menos em partes a tristeza e os absurdos da ditadura. 

Ele conta, inclusive, detalhes muito íntimos, como, por exemplo, ter inocentemente acreditado que seria apenas interrogado e logo voltaria para casa... Ou como foi passar dias em uma solitária minúscula comendo refeições horrendas, sem poder se comunicar com ninguém, sem poder ver a luz do sol... Contou sobre a falta que sentia de Dedé, sua esposa na época, ainda mais levanto em consideração que eram recém casados. E, claro, tudo de forma muito poética. Não esperaria menos dele.

A edição da Companhia das Letras conta com algumas páginas do processo aberto contra o cantor com base no AI-5. Curioso saber que o próprio Caetano só foi saber da existência desses documentos há pouquíssimo tempo, em 2018. Mesmo com os documentos não há justificativa plausível para a prisão, o que volta naquilo que falei anteriormente. Parece uma piada de mau gosto.

Gostei bastante do que li e fiquei marcada especialmente pelo trecho em que ele conta que um dia, sem explicação, foi levado de sua cela por um guarda com uma arma apontada para ele, para um lugar deserto. Ele tinha certeza que ia morrer, mas o levaram no barbeiro para que cortassem o cabelo dele, um símbolo do tropicalismo. Queriam, obviamente, passar a mensagem que sua liberdade estava sendo tirada. Fiquei com aquele gostinho de quero mais, sabem? Como se tivesse faltando alguma coisa... Acho que o jeito vai ser ler Verdade Tropical! rs


Título: Narciso em Férias • Autor: Caetano Veloso • Editora: Companhia das Letras

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O Coração Assombrado de Stephen King, por Lisa Rogak

06/11/2020

Não é nenhum segredo que eu sou uma admiradora da obra de Stephen King, né? Acho ele um autor completo, com obras que falam sobre o terror do ser humano e dos monstros que nos assombram. Há algum tempo comprei a biografia não autorizada, lançada no Brasil pela Darkside Books, e achei que Setembro/Outubro seria conveniente ler, pois tivemos o aniversário do autor no dia 21/09 e o Mês do Halloween.

É de conhecimento publico que King teve problemas com drogas no inicio de sua carreira, o maior exemplo é a respeito de Cujo que ele nem se lembra de ter escrito a obra, e o próprio IT que tem passagens tão bizarras que é impossível pensar que uma pessoa sóbria escreveria aquilo. Nesta obra é possível ver as causas desse vício e suas consequências, já que por muitos anos o autor precisou lidar com o abandono de seu pai ainda na infância e a convivência com a mãe que viu batalhando para criar seus dois filhos sozinha. Na infância ele tem uma vida muito difícil e pobre, e na escola não era um dos mais populares também, então por isso acabou enfiando as caras nos livros logo cedo e escrevendo coisas infantis, que sua própria mãe incentivava e pagava umas moedinhas por cada "livro" que ele escrevia. É uma pena saber que ela não pode ver o sucesso de seu filho, já que morreu pouco tempo depois de ele lançar seus primeiros livros, mas com certeza grande parte do seu sucesso é graças ao incentivo dela.

Eu sei que ele tem alguns livros falando sobre escrita, escrita criativa e todo esse processo e pelo seu modo de trabalhar, como é retratado aqui, eu penso que esse homem deveria  falar mais sobre isso, principalmente por ser uma grande inspiração para seus fãs, autores de terror e horror e aspirantes. Só a forma como ele pega uma única ideia e transforma em algo grandioso e, em certos momentos, aterrorizante, o cara já merece muito mais prêmios do que tem, já que poucos autores conseguem sempre sair de sua zona de conforto (vamos combinar que ele consegue se aventurar em praticamente qualquer gênero).

Você leva o seu lugar de origem para onde quer que vá.

Com certeza o que mais gostei de saber foi sobre sua família, já que eu não sou o tipo que fica pesquisando muito sobre isso no Google foi curioso ver seu relacionamento do Tabitha e como ela sempre o apoiou, desde que eles quase não tinham onde cair morto, até todo o uso do dinheiro da venda de um conto para comprar remédios para o filho doente e principalmente os anos que aguentou esse homem viciado em drogas. E o mais bonito de tudo é como os filhos o admiram, mesmo tendo lembranças desagradáveis dele na infância, ainda assim os três sentem um amor pelo pai e isso é evidente quando dois de seus três filhos também se tornaram escritores.

O livro é de 2016, então me deixou curiosa com algumas coisas dos últimos anos da carreira dele, principalmente com tantas novas produções relacionadas ao autor e seus novos livros que tem uma pegada um pouco diferente do que ele costumava ser antes. Quem sabe um dia ele nos presenteie com uma autobiografia, né?

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Título: Stephen King - A Biografia: Coração Assombrado: Longa vida ao rei • Autora Lisa Rogak
Editora: DarksideBooks • Tradução: Claudia Guimarães

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Resenha: Longe de Casa

14/09/2020


Eu não escondo de ninguém que admiro muito a Malala e quero ler tudo que ela publica, então claro que quando vi esse livro lá na época de seu lançamento fiquei ansiosa para tê-lo em mãos. O que eu não esperava era a tamanha tristeza que sentiria com essa leitura.

Em Longe de Casa temos histórias reais de meninas que são refugiadas. Elas saíram de países do Oriente Médio e Africa (somente um caso é da América do Sul) fugindo de uma guerra, milicia, ou parentes abusivos. São histórias tão tristes, mas ao mesmo tempo nos inspiram a ser melhores.

Eu não esperava uma personagem que se separa da irmã e fica sem vê-la por anos, uma personagem que se sente culpada por ter tido melhores oportunidades do que a irmã, que quase morreu para fugir de seu país. Eu nunca poderia nem pensar em me preparar para uma menina que viu a mãe ser morta a tiros na sua frente por pessoas de religiões extremistas, e claro que nem imagino a falta que essa mãe faz na vida dos filhos.

São histórias chocantes e que me fizeram refletir a respeito da minha realidade. Vivemos em um país que está dividido entre lado politico, mas que apesar dessa tensão ainda tem paz na maior parte dele. Eu posso sair na rua sem medo de um grupo extremista religioso atacar as pessoas, posso sair de casa e trabalhar e estudar, e enfim, tantas coisas que essas meninas não tiveram por muito tempo de suas vidas e coisas que eu nunca nem pensei em dar valor. Pode parecer até absurdo quando pensamos na realidade atual do Brasil, mas ainda assim aqui temos a liberdade que esses lugar nunca sonharam em ter.

É horrível parar e pensar que o que aconteceu com elas está acontecendo com outras pessoas nesse exato momento e o restante do mundo não se importa, e que mesmo as pessoas que param para refletir sobre isso (como eu agora) vão continuar vivendo suas vidas normalmente. É uma realidade que ficam alheia a nós, mas que nem por isso deixam de existir.

Apesar do assunto ser triste a leitura é tranquila. Então ela pode ser indicada para qualquer idade em que a leitora se interesse por esse assunto.


Título: Longe de Casa — Minha jornada e histórias de refugiadas pelo mundo (We Are Displaced: My Journey e Stories from Refugee Girls Around the World) • Autora: Malala Yousafzai
Editora: Seguinte • Tradução: Lígia Azevedo

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Resenha: Eu Sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola

27/05/2020

Autora Maya Angelou


Não conhecia Maya Angelou até ver a capa deste livro e me apaixonar muito por ela. Achava que era uma obra de ficção e tive uma baita surpresa quando li a sinopse e descobri que é a autobiografia de uma atriz, poetisa, além de ter sido a primeira mulher negra a roteirizar e dirigir um filme em Hollywood, além de ser amiga de Martin Luther King e Malcolm X era também ativista, dançarina, jornalista e professora. E para acabar ela recitou um de seus poemas na posse do presidente Bill Clinton lá em 1993. Claro que tem outras coisas, mas acho que já deu para entender que a mulher é foda, né? Apesar de ser tudo isso e muito mais o livro não faz falar sobre isso e sim sobre infância. Cada capítulo vai contar de algo e eu já aviso que é bom você estar preparada para sorrir e chorar, logo de  uma página para outra. Sua vida foi extremamente difícil, ainda mais sendo de um país tão racista nos século passado (como se ainda não fosse).

Maya morava com a avó, seu irmão mais velho e seu tio em uma casa com um mercadinho na frente. O negócio era da sua avó e era bastante próspero naquela vila, tanto é que quando veio a crise de 29 a avó de Maya era quem ajudava as pessoas a não passarem fome. Mas mal recebia um agradecimento, já que a maioria das pessoas que ela ajudavam eram brancos que a tratavam como lixo por sua cor de pele. Apesar dessas coisas Maya era uma criança feliz, mesmo com saudades da mãe e do pai. Havia um sentimento de abandono muito grande em relação a eles e sua avó não era tão carinhosa assim, apesar de cuidar muito bem dos netos. Seu relacionamento com o irmão era maravilhoso e apesar de tomarem umas surras, às vezes, eles se divertiam aprontando.

Essa alegria não durou muito tempo. A mãe de Maya resolveu que era hora de cuidar dos filhos e os levou embora. Sua família era um pouco mais bem de vida do que a família do pai e pela primeira vez ela teve o conhecimento do que era luxo. Maya odiava morar com sua mãe, a cidade nova, as pessoas que as rondam e quando teve uma figura masculina que ela poderia considerar como paterna ele a estupra. Maya tinha apenas 8 anos quando isso aconteceu e seu medo já era maior que qualquer coisa. Ela não contou para sua mãe com medo de ser apontada como a culpada pelo que houve, mas ela descobriu de qualquer maneira e tomou uma atitude. Depois disso Maya ficou sem falar por anos. Nem uma única palavra saia da boca da mulher que recitaria seu próprio poema na posse de um presidente.

Eu sei que até esse ponto eu jé contei muito da história do livro mas gente, como não? Olha o que essa mulher passou e olha o quem ela se tornou. A história dela é tão triste pelas coisas ruins e tão inspiradoras pois ele nunca desistiu de nada, nem de si mesma quando passou a entender a vida. A Maya tinha tudo para ser só mais uma mulher, só mais uma mulher negra nesse mundo racista, mas ele fez muito mais. Ela foi atrás de tudo o que queria, tanto é que com 15 anos ela se tornou a primeira pessoa negra a trabalhar em um daqueles bondinhos que tinha na época. Você consegue imaginar no contexto histórico disso? Me apaixonei muito por ela, além de amar sua forma de escrever. Ela deixa uma biografia ser legal e às vezes até parece um pouco de ficção.

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Título: Eu sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola (I Know Why the Caged Bird Sings)
Autora: Maya Angelou • Editora: Astral Cultural • Tradução: Regina Winarski
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Resenha: O Diário de Jack, O Estripador

31/10/2019


Eu não sou a pessoa mais ligada na história do famoso serial killer Jack, O Estripador, mas quando vi esse livro fiquei muito curiosa por se tratar de um diário, ou seja, eu teria a oportunidade de ler as palavras do próprio. É claro que a identidade do assassino mais famoso da história ainda é um mistério, e provavelmente continuará sendo por muito tempo, mas um dos suspeitos tem uma história bem louca e uma mente perturbada.

Ao contrário do que eu achei o livro não é somente o diário de um dos suspeitos de ser Jack, o comerciante de algodão James Maybrick. Ele conta com toda uma história a respeito de Jim, de sua família, e principalmente sobre os vários estudos que foram feitos no diário desde que ele foi entregue a Shirley Harrison. Confesso que eu demorei um pouco mais do que gostaria para ler este livro, pois o texto em si é bem denso e com diversas informações sobre as analises laboratoriais, depoimentos de pessoas, analise do próprio James e detalhes sobre os assassinatos (que muitas vezes nos deixa horrorizadas, mesmo nos dias atuais.


Independente da minha dificuldade de leitura eu gostei muito da obra. Mesmo acreditando fielmente de que o diário não é uma farsa a autora colocou todos os pontos de vista possíveis com os resultados e comentários feito a respeito do livro e do relógio, que teoricamente, pertenceu a James.

Deixando de lado a ideia de que James pode ou não ser Jack e o diário sendo real ou não a história da Família Maybrick é extremamente conturbada. E uma pessoa me chamou muito atenção nessa história toda: Florie, a esposa de James. Ela era anos e anos mais nova do que ele, mas aceitou se casar com este homem para acabar vivendo uma vida infeliz. Sim, era uma outra época, mas mesmo nesses tempos Florie se mostrou ser um pouco além de seu tempo. Ela queria se separar, mas não podia por causa dos filhos; Florie tinha um amante e segundo relatos do diário James se excitava com a ideia de outro homem transando com sua esposa; No final de tudo Florie foi acusada de matar James envenenado (segundo o diário ele era viciado em arsênico) e ela sofreu tanto, por tantos anos na prisão. Perdeu o afeto de seus filhos e só teve próxima de si sua mãe. É impossível não ler este livro e não se sentir triste por esta mulher.


Se você gosta de livros de história, investigação e biografia então pega essa dica. O livro tem essa mistura de gêneros e tenho certeza que para quem adora o tema serial killer é uma leitura obrigatória, afinal esse é um dos mais famosos e mais antigos que temos conhecimento. Acho que a leitura será prazerosa, mas é bom alternar com outras coisas mais leves pois ele é bem tenso em alguns pontos.


Título: O Diário de Jack, O Estripador (The Diary of Jack the Ripper - The Chilling Confessions of James Maybrick) Autora: Shirley Harrison • Editora: Universo dos Livros • Tradução: Felipe CF Vieira
Livro cedido em parceria com a editora
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Resenha: Eu te Odeio!

08/08/2017

Nunca escondi de ninguém que amo Corey desde que tinha, praticamente, uns 15 anos e sempre que posso acompanho o andar de sua carreira, seja no Slipknot ou no Stone Sour, que são duas bandas que eu amo. Então fiquei extremamente feliz com a oportunidade de ler seu novo livro, que eu nem tinha esperança que seria lançado um dia no Brasil (Obrigada, editora Planeta). ♥

Ao contrário de sua primeira obra, Sete Pecados Capitais, Eu Te Odeio! tem um tom mais engraçado, visando mais para o humor negro e sarcástico da coisa toda. Neste obra Corey fala sobre tudo e todas as coisas que ele odeia no mundo e nas pessoas (principalmente as pessoas, no caso). E cara, é tão bom ler algo e pensar "caramba, eu super concordo com isso". rs Corey fala sobre realitys shows (que não são reais coisa nenhuma), pessoas que só olham para seu próprio umbigo e acham que o mundo gira em torno de si mesma, as músicas que são hits, família, amigos e crianças.


Eu gosto como ele expressa sua opinião, sem realmente se importar com o que os leitores vão pensar dele — sendo seus fãs ou não. Por mais que, em poucos momentos, eu tenha achado algumas ações loucas ou exageradas eu ainda conseguia entender seu ponto de vista através de seus argumentos. Ele não exala apenas ódio nessa obra, ele simplesmente fala algumas verdades que as pessoas (provavelmente) não estão preparadas para ouvir dos outros. Provavelmente muitos de vocês já se depararam com situações semelhantes das quais ele usou no livro e com certeza se identificariam com muitas delas. Um dos capítulos que mais gostei foi do que ele fala sobre as músicas que as gerações mais novas estão escutando e como elas são feitas e o que fala sobre moda. De certa forma esses dois capítulos podem estar conectados mesmo que indiretamente.

O livro não é uma biografia do autor, mas tem muitas passagens que ele comenta sobre sua própria vida; Acho que pode ser classificado como um livro de memórias e neste caso, como já devem ter notado, não é um livro de ficção. Mas independente disso a leitura é recomendada para fãs e não fãs deles, principalmente por conta de seu senso de humor e opinião, que pode acabar gerando diversos tipos de comentários por meio dos leitores. Eu sou muito suspeita para falar, mas sim: leia este livro se quiserem repensar um pouco sobre o mundo em que vivemos de uma forma não filosófica.

Resenha: Vida após a morte

22/06/2016

De fato eu não sou uma leitora de não-ficção e muito menos de biografias, entretanto quando a história de alguém me desperta curiosidade eu sinto a necessidade de ler o que essa pessoa tem a dizer. Foi assim que aconteceu com Damien Echols. Conheci seu caso com o filme Devil's Knot (protagonizado por Reese Witherspoon e Colin Firth) em meados de 2015 e pela curiosidade que o filme me despertou eu acabei lendo sobre a história e assistindo a quatro documentários que contam sobre o caso. Fiquei fascinada e horrorizada com tudo o que ele passou junto com seus dois amigos.

Eu não sou uma pessoa conhecida pela minha sensibilidade, acho que até pelo contrário. Mas me vi algumas vezes extremamente emocionada lendo os relatos dele. O livro não conta, exatamente, sobre o caso West Memphis Three (os três de West Memphis). As passagens que Damien relata sobre o caso ficam mais para o final do livro e ele apenas narra como foi para ele aqueles dias que antecederam sua prisão e um pouco do julgamento. O livro é muito mais focado na vida dele antes do fatídico evento. E bom, o que eu posso dizer é que é triste. Muito triste.

Damien desde criança não teve uma vida fácil. Ele reforça diversas vezes o quanto sua família era pobre a ponto de eles passarem frio dentro da própria casa no inverno pois não tinham aquecedor (usavam o forno em uma tentativa falha de aquecer a casa), além de morar em locais duvidosos. Nunca se sentiu amado, nunca sentiu que tinha um lugar para chamar de lar. Quando se tornou adolescente seu único refugio eram os livros e a música — e ele nunca iria imaginar que seria justamente isso que usariam contra ele no tribunal. O livro também conta como ele conheceu sua esposa, Lori Davis, além de falar sobre acontecimentos que o marcaram dentro da prisão, a repercussão de seu caso com algumas pessoas famosas e principalmente sobre religião e o sistema carcerário americano.

Fotos anexadas no livro. Damien com a esposa e ao lado Damien ao lado do cantor Marilyn Manson e ao lado de Johnny Depp (um dos artistas que apoiou publicamente o trio e se tornou amigo pessoal de Damien).

O que mais me chateia na história dele é a forma como a justiça de seu país tratou o caso. O julgamento não foi feito através de provas e evidencias e sim pela aparência. Como Damien se vestia perante a sociedade (algo como hoje nós conhecemos como gótico), as músicas que ele gostava de ouvir (heavy metal) e os livros que ele gostava de ler (ele é um grande fã de Stephen King, além de naquela época gostar muito de ler livros sobre wicca). Ele era acusado de ser líder de culto satânico somente por suas caracteristicas e gostos (algo que, alias, nunca foi provado).

Como deu para perceber eu faço parte das pessoas que apoiam e acreditam na inocência do trio, mas acho que neste caso cada um deveria tirar suas próprias conclusões assistindo ao documentário. Eu sinto que poderia falar tanta coisa sobre Damien no post, mas seria um textão para ninguém já que pouquíssimas pessoas se interessam por esse tipo de história. A única garantia que posso dar é de que o livro vale a pena ser lido, principalmente nas passagens em que o autor anexa textos que ele escreveu nos seus anos no corredor da morte e algumas cartas que escrevia para Lori. Tem passagens bem emocionantes que da aquela vontade de chorar e outras que podem deixar as pessoas em choque — principalmente aquelas pessoas que babam ovo para os EUA e acha que este é um país perfeito e etc.

quotes
— (...) não é bom ficar pensando nessas coisas. Ou eu desperdiço minha energia me concentrando naquilo que não posso mudar ou conservo minha energia e uso em pequenas coisas que posso mudar.
A maior parte das pessoas no mundo exterior olha diferente para você se descobrirem que você já esteve preso. 
Um penteado ruim, um guarda-roupas preto, 'poesia' adolescente cheia de angústia e uma queda por bandas de cabeludos - isso é suficiente para que você seja mandado para a prisão. Mais ainda, para o corredor da morte.

Para quem Netflix fica a dica o documentário West of Memphis que da um resumão sobre o caso.