No Fundo do Oceano, Os Animais Invisíveis e a escrita contemplativa

25/03/2021

Segurando o livro nas mãos

Eu nunca me considerei uma leitora contemplativa e não sei até que ponto isso me prejudica ao ler um livro que tem uma escrita totalmente contemplativa. Eu percebi isso em todos os momentos em que li No Fundo do Oceano, Os Animais Invisíveis da autora Anita Deak. Esse não é um livro que só deve ser lido, ele é uma obra em que você precisa estar totalmente imerso naquilo que a autora está criando para, assim, conseguir entender a trama no meio da narrativa proposta.

O livro nos apresenta ao personagem Pedro Navas e mesmo não tento uma narrativa linear é possível identificar quatro fases diferentes de sua vida: a infância na fazenda da família, adolescência e vida adulta na cidade grande e por fim quando ele passa usar o pseudônimo de Lucas durante o Regime Militar. Para mim a maior dificuldade não está relacionada com a história não seguir uma linha do tempo e sim com o texto inteiro corrido, mal tendo espaço para pontuações. Os diálogos são todos juntos, separados por vírgulas e causando assim um desconforto. Não sei se ela tinha essa intenção ao usar esse artificio, mas para leitores que não estejam habituados pode ser bem ruim de inicio. Conforme as fases da vida do narrador vão mudando a narrativa foi me confundindo mais, já que ele voltava a lembranças da infância, falava de uma pessoa e logo em seguida já estava falando de outra, da mesma forma que em poucas palavras mudava o ambiente em que as coisas estavam acontecendo. Para mim foi bastante complicado conseguir me situar na história e é até estranho falar assim pois o livro tem 190 páginas que da para ler em dois dias.

Se eu falo uma palavra e meu pai ouve diferente do que eu quis dizer, para onde vai a minha palavra?

Além da dificuldade com a narrativa eu me senti bastante incomodada com algumas outras coisas que foram introduzidas ali. Eu sempre me incomodo com livros que tenham estupro, pedofilia e racismo. Sim, o livro se passada nos anos 50 e 60 em sua grande parte e nessa época as coisas eram diferentes, mas sendo o livro uma obra de ficção poderia ter a sensibilidade ao abordar esses temas. Vou dar como exemplo A Casa dos Espíritos, da Isabel Allende (que eu li recentemente) pois tem algumas semelhanças nesse aspecto: A diferença de abordagem das duas autoras é que Allende falou sobre isso de uma forma chocante e critica, e em No Fundo do Oceano foi só um fato jogado na história que não pareceu ter relevância para todo contexto. Não foi algo que Pedro levou para a vida com arrependimento, ou que tenha sentido algo errado. De fato após estuprar sua namorada ele nem se da conta de que aquilo é errado e leva a vida como se nada tivesse acontecido sem entender o motivo que a fez parar de falar com ele por meses.

Apesar de não ser um romance histórico o livro mostra um fato que ocorreu no Araguaia durante o Regime Militar: A resistência dos camponeses de Araguaia. Lucas ao ingressar na faculdade passou a conhecer sobre o comunismo, tão longe de sua realidade na fazenda da família, e acabou se juntando ao movimento estudantil que posteriormente foi afetado pela ditadura com torturas e mortes e para atuar na milícia ele passou a usar o nome de Lucas, entretanto após ser descoberto e preso ele ficou exilado em um pequena cidade/fazenda com outros guerrilheiros e em momento crucial na trama são descobertos e um embate ocorre entre eles. Apesar de Pedro não ser baseado em um personagem real esse fato realmente aconteceu [você pode ler mais aqui].

Este é um livro para poucos. Li algumas opiniões sobre ele que divergem totalmente da minha e que exaltam a qualidade da autora ao criar essa obra, então justamente por isso acho que é importante cada um ler e ter sua própria opinião sobre o livro. 

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TítuloNo Fundo do Oceano, Os Animais Invisíveis • Autora: Anita Deak • Editora: Reformatório

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Um comentário

  1. Querida Silviane, sua leitura é muito importante para a Oasys Cultural. Obrigada. O que posso dizer é que gosto quando um livro me tira do meu "lugar de conforto". Às vezes, a gente gosta mais do livro (ou do filme) depois que terminou de ler (Ou assistir). Tomara que seja assim com "No fundo do oceano, os animais invisíveis". Eu, particularmente, acho um grande livro. Muitos beijos, obrigada mais uma vez

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