Bruna Guerreiro indica: Hibisco Roxo

09/02/2018




No terceiro mês (♥) de A Autora Indica tenho a contribuição linda da autora Bruna Guerreiro. Ela vai falar sobre o livro Hibisco Roxo!


Tipo: Livro
Título: Hibisco Roxo
Autor: Chimamanda Ngozi Adichie
Indicado por: Bruna Guerreiro
Opinião da autora

"Hibisco Roxo" foi um dos melhores livros que li em 2017. Eu já tinha lido um livro da autora Chimamanda Ngozi Adichie, "Sejamos todos feministas", que é um livro curto e impactante, e desde então fiquei curiosa para ler um de seus romances. O resultado foi melhor do que eu esperava. Fui arrebatada pela escrita de Adichie.

Vamos falar um pouco sobre a história que o livro conta. A personagem principal se chama Kambili e tem 15 anos. Ela vive com seus pais e seu irmão em Enugu, Nigéria, numa mansão enorme e luxuosa, cheia de empregados. Seu pai, Eugene, é o homem mais admirado e respeitado do local. Empresário muito bem sucedido, dono de jornal e de fábricas diversas (de sucos, por exemplo) e muito religioso, ele é aquela referência a que todos recorrem quando precisam de algo, ou simplesmente para render homenagens a ele. Acontece que Eugene é aquele tipo de homem que valoriza a cultura inglesa, trazida pelo colonizador. Não gosta de falar igbo, a língua local, só inglês. Sua religião é o catolicismo, que ele impõe duramente aos filhos (Jaja e Kambili). Para ele, qualquer traço de costumes nativos que se misture à religião branca é pecado. Eugene é tão severo que mal permite que os filhos convivam com seu idoso pai, porque ele é pagão. A muito custo, os jovens podem visitar o avô, o tempo é contado no relógio e eles não podem consumir nada dentro da casa do velho, como se fossem se contaminar.

É interessante mencionar a forma como Adichie nos introduz nesse quadro. É tudo através da visão de Kambili e, veja, Kambili não é uma moça revoltada. Muito pelo contrário. Ela tem uma mistura preocupante e comovente de medo, amor e admiração pelo pai. Ela anseia pela aprovação dele, sofre quando o irmão diz algo na mesa da refeição que angaria um sorriso do pai, porque ela gostaria de ter dito, teme que o pai descubra qualquer coisa que ela fez de diferente do que ele mandou, como ficar míseros cinco minutos a mais na casa do avô, e se esforça para ser a primeira aluna de sua classe para que ele tenha orgulho dela. Claro que não é só por isso. Eugene pune duramente a filha porque ela ficou em segundo lugar. As punições são físicas e psicológicas. A forma como ele fala com ela nessas ocasiões em que a repreende é de arrepiar. Pergunta se o pai da menina que ficou em primeiro lugar é um pai melhor do que ele, por exemplo. Tudo de um jeito que faça Kambili se sentir culpada. A mãe de Kambili é regularmente espancada. Ninguém fala sobre esse assunto, mesmo que ela saia de casa carregada pelo próprio agressor para ir ao hospital. O ambiente familiar é constantemente tenso.

Tudo começa a mudar quando Jaja e Kambili vão passar uns dias em Nsukka, com sua tia Ifeoma. Tudo lá é diferente. Pra começar, Ifeoma trabalha fora, diferente da mãe deles. Ifeoma é professora universitária e, sendo viúva, sustenta sozinha os três filhos: Obiora, Amaka e Chima. A casa deles é humilde e a estrutura do bairro é precária. Falta água, luz, e Kambili tem que aprender a não desperdiçar nada, por exemplo quando ela descasca vegetais. A princípio, a relação com a prima Amaka é difícil. Amaka tem inveja do dinheiro que os primos possuem e é ressentida. Mas só até que ela comece a compreender a vida dificílima que Kambili tem em casa com seu pai.

Em Nsukka, outro personagem importante no aprendizado de Kambili entra em cena: o padre Amadi. Para começar, ele mostra a ela um lado da religião que ela não supunha que fosse correto. Mesmo sua tia e seus primos são católicos, mas eles misturam canções em igbo às orações e também dançam, tudo que Kambili e Jaja sempre aprenderam que era pecado. É outra religiosidade. O padre Amadi é jovem, é negro (o padre da missa que Kambili frequentava com os pais era branco), joga bola com as crianças e ouve música quando dirige seu carro. Em Nsukka, Kambili revê o avô, agora doente, e testemunha a relação íntima e amorosa que ele tem com seus três outros netos, que ela nunca pôde ter com ele porque seu pai não permitia.

Tudo isso é contado numa narrativa delicada, tocante, envolvente. Uma coisa interessante de observar é o corajoso posicionamento político de Eugene através de seu jornal. Ele é contra o golpe ocorrido na Nigéria e sofre ameaças por isso. Os personagens de Adichie não são óbvios, esse é um lado admirável de Eugene, é preciso reconhecer. Mas também admito que, no fim, só resta ódio meu por esse personagem. A própria presença dele instala medo. É horrível.

O final é diferente de tudo que imaginei. Não vou dar spoilers, podem ficar tranquilos. Havia muitas questões sobre as quais eu, durante o livro, tinha medo de como seriam conduzidas. Mas Adichie foi elegante com tudo. O livro é maravilhoso! É o primeiro romance de Adichie (que cresceu em Nsukka!) e eu quero ler outros, com certeza.

Bruna Guerreiro é historiadora por formação e escritora por vocação. Começou a escrever seu primeiro romance em 1998, depois que o Brasil perdeu a final da Copa da França, mas precisou de muitas Copas para transformar sua vida de historiadora na vida de uma contadora de histórias. Publicou seu primeiro livro em 2013 e nunca mais parou de ter ideias e escrever compulsivamente, invadida por personagens que – felizmente – nunca lhe dão trégua e embalada por canções que se tornaram parte do seu ofício de escrever.

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