Especial O Ceifador: A Nimbo-Cumulo

28/09/2020


O Ceifador está incluso na categoria distopia nos livros, mas muito facilmente poderia ser confundido com uma utopia graças a Nimbo-Cumulo, a nuvem mais perfeita já criada. Sim, eu falo perfeita pois, apesar de não ser uma pessoa, é a melhor personagem dessa história e ouso dizer que a trilogia em si é muito mais sobre ela do que os personagens principais que compõe essa trama.

A Nimbo-Cumulo foi criada ainda na Era Mortal a fim de auxiliar os seres humanos a viver no planeta, entretanto ela foi se mostrando ser essencial para a sobrevivência dos humanos (literalmente). Graças a todas as tecnologias que envolvem a nuvem ela foi importante para acabar com todas as doenças, por acabar com a fome e mesmo não podendo controlar o meio ambiente ela consegue controlar como a sociedade lida com ele. Acho que quando lemos ficção-cientifica e vemos alguma inteligência artificial sempre esperamos o pior dela em algum momento, um ponto em que o objetivo da IA é mais importante do que os meios e eu fiquei esperando isso durante a minha leitura, entretanto com uma boa surpresa eu percebi que a Nimbo-Cumulo obedece sem pestanejar todas as leis da robótica criadas por Isaac Asimov.

Particularmente amo todos os pensamentos dela que são nos passado, principalmente em A Nuvem onde podemos conhece-la de forma intima e muitas vezes sofrer como ela sofre com o que o ser humano é capaz de fazer, como mesmo vivendo em um mundo perfeito o ser humano ainda encontra o seu caminho para a maldade. Em O Timbre podemos ver novamente a Nimbo-Cumulo fazendo de tudo para salvar a humanidade, mesmo quando ela não pode agir diretamente na questão central da coisa. 

Vejo a Nimbo-Cumulo como uma metáfora para Deus enquanto a Ceifa é a religião, em como Deus é um ser perfeito e a religião corrompe as pessoas, enquanto ela tenta consertar os erros sem se envolver diretamente. E ainda há o fato de as pessoas ali conversarem com ela (basicamente um paralelo com as orações), ela poder curar doentes e ressuscitar os mortos, ela sabe de tudo e vê tudo e só está com as pessoas que aceitam sua presença. Eu não sou uma pessoa religiosa, mas fico imaginando como seria poder ter deus tão perto quanto é a Nimbo-Cumulo.

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Especial O Ceifador: Referencias de personagens

25/09/2020

 


Acredito que quem leu O Ceifador, e suas sequencias, percebeu algumas referencias a outros livros de ficção cientifica e até distopias, né? Hoje vou listar algumas, principalmente as referencias dos nomes dos ceifadores que acho que são escolhas maravilhosas.

Ceifadora Anastásia

— Escolho ser conhecida como a ceifadora Anastásia — ela disse. — Em homenagem à pessoa mais jovem da família Romanov.
Os ceifadores se voltaram uns para os outros, discutindo entre si aquela escolha.
— Srta. Terranova — disse o Alto Punhal Xenócrates, claramente descontente —, não acredito que seja uma escolha apropriada. Os czares da Rússia foram mais famosos por seus excessos do que por suas contribuições à civilização. E Anastásia Romanov não fez nada de extraordinário em sua curta vida.
— É exatamente por isso que a escolhi, excelência — Citra disse, sem tirar os olhos dele. — Ela era fruto de um sistema corrupto e, por isso, teve a própria vida negada, como eu quase tive.
Xenócrates se eriçou um pouco. Citra continuou.
— Se continuasse viva, quem sabe o que ela poderia ter feito? Talvez pudesse ter mudado o mundo e redimido o nome da família. Eu escolho ser a ceifadora Anastásia. Prometo encarnar a mudança que poderia ter sido feita. O Alto Punhal a encarou, ainda em silêncio. Então, uma ceifadora se levantou e começou a aplaudir. A ceifadora Curie. Depois outro se juntou a ela, e mais outro e, em pouco tempo, toda a Ceifa estava de pé, em ovação à recém-ordenada ceifadora Anastásia.


O nome tem vários significados, sendo dentre eles "aquela que se liberta das correntes" ou "ela reerguer-se-á", o que de fato combina muito com a jornada de Citra em toda a história. Um outro significado do nome Anastásia é ressurreição. A grã-duquesa morreu jovem, mas tinha uma personalidade bem característica e que se diferenciava de todas as suas irmãs.

Ceifador Faraday

A inspiração para o nome de um dos ceifadores mais queridos do livro é Michael Faraday, um cientista que teve trabalhos relacionados a eletricidade, magnetismo e eletroquímica. Suas contribuições são de extrema importância para a ciência e o entendimento do mundo natural. A escolha desse nome para o ceifador que, ao meu ver, é o mais importante da trama foi bem curioso levando em conta os feitos do cientista.

— Gosto de pensar que escolhi um patrono histórico bem adequado. Como muitos cientistas, Michael Faraday foi subestimado durante a vida, mas nosso mundo não seria o mesmo sem ele.

Ceifadora Curie

Marie Curie é um dos nomes femininos mais importantes da ciência. Foi a primeira mulher a receber um Nobel de Física e a responsável pelas descobertas de radioatividade. Em uma época em que somente homens eram premiados e somente homens atuavam na ciência ela mostrou que mulheres também são cientistas e até hoje é inspiração para muitas mulheres que desejam seguir essa carreira. A Ceifadora Curie fez muito bem ao escolher sua Patrona e com sua fama dentro (e fora) da Ceifa não é de se admirar que há certas semelhanças entre elas.

Ceifador Robert Goddard

Goddard foi um importante físico experimental e, por assim dizer, o inventor dos foguetes. Através de suas experiências com os foguetes foi possível os estudos sobre tecnologia espacial. Ele é tão importante nesse campo que muitos consideram que graças a suas descobertas o homem foi para o espaço. Apesar de não parecer ter nenhuma relação com o vilão da trama o patrono do Ceifador Goddard muito tem a ver com o físico que conhecemos. Eu acabei percebendo, de fato, essa relação somente no último livro, mas para quem ama teorias pode até usar esse nome para teorizar sobre o personagem mais odiado.

Ceifadora Ayn Rand

Ayn Rand foi uma escrita e filósofa em certos aspectos polêmica. Ela foi a grande criadora do objetivismo e, como em alguns sites falam por ai, ela basicamente apoia o egoísmo. A obra dela é tão importante que seu livro é considerado o segundo mais influente dos EUA, ficando atrás somente da Bíblia. Lendo sobre a autora eu percebi o motivo de ela ser tão importante para os estadunidenses, mas deixando de lado esse aspecto mais politico da coisa a escolha desse nome para a Ceifadora Rand foi muito peculiar, já que ela é uma mulher muito egoísta e que só pensa em seu próprio sucesso. Apesar de ser uma das seguidoras do Ceifador Goddard ela se coloca na essa posição pois acredita que é a mais benéfica a ela.

Ceifadores brasileiros?


Durante a leitura alguns nomes são relacionados aos ceifadores que vivem na região amazônica (que eu entendi como sendo Brasil num geral) e como os nomes dos ceifadores dessa região poderiam ser de brasileiros eu deduzi que seriam as seguintes pessoas:

TARSILA DO AMARAL

Ela foi uma pintora e desenhista, muito importante na primeira fase do movimento modernista aqui no Brasil. Tarsila acabou se tornando uma grande influencia mundial na arte e uma das artistas mais conhecidas do Brasil. No livro quando citam a Ceifadora Tarsila em nenhum momento falam sobre sua patrona ou o sobrenome e é compreensível por ela ser uma personagem, mas de qualquer forma se Neal escolheu ela foi uma escolha linda.

SYDNEY POSSUELO

Sydney Possuelo está longe de ser uma figura nacional conhecida pelo povo e se Neal realmente usou ele como patrono fez um grande trabalho pesquisa sobre o assunto. Possuelo é um indigenista e ativista brasileiro que foi presidente da Funai e ainda hoje, aos 80 anos, luta a favor do povo indígena e em defesa da Amazônia. Uma escolha muito justa para um personagem que teve uma participação importante na obra.

É claro que existem outras tantas referencias aos nomes dos ceifadores em toda a trilogia, mas selecionei os que acho que mais se destacam. E também há outras referencias na própria história, nas nomeações dos anos e a própria Nimbo-Cumulo. Por essas e outras que essa é minha trilogia favorita do momento.

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Especial O Ceifador: Minhas frases favoritas

24/09/2020

 



Apesar do livro já estar disponível em e-book eu vou dizer que Setembro é o mês oficial do lançamento de O TIMBRE no Brasil, pois sua versão física tem previsão para sair no dia 30/09. E como uma leitora apaixonada por essa trilogia que eu sou resolvi fazer umas postagens especiais sobre esse livro para panfletar mesmo e fazer mais pessoas conhecerem. Então hoje vocês irão ler minhas frases favoritas do primeiro livro: O Ceifador.


A esperança diante do medo é a motivação mais forte do mundo.


— Por que vamos competir por algo que nenhum de nós quer? — Citra perguntou.
— Aí está o paradoxo da profissão — Faraday disse. — A função não deve ser concedida aos que a desejam. São aqueles que mais se recusam a matar que devem exercê-la.


O Ceifador é uma distopia onde não há mais governos, fome, miséria, tristeza e morte. Tudo é controlado pela Nimbo-Cumulo que tem o único propósito de servir ao ser humano. Para manter o controle populacional o único modo de as pessoas morrerem é serem coletadas pelos ceifadores.

A Nimbo-Cúmulo sabia tudo. Quando e onde construir pontes; como eliminar o desperdício de alimentos e, assim, acabar com a fome; como proteger o meio ambiente da população humana crescente. Ela gerou empregos, vestiu os pobres e criou o Código Mundial. Agora, pela primeira vez na história, a lei não era mais uma sombra da justiça, mas era a justiça. A Nimbo-Cúmulo nos proporcionou um mundo perfeito. A utopia com que nossos ancestrais sonhavam é a nossa realidade.

A Ceifa, assim como é chamada, é a única "instituição" em que a Nimbo-Cumulo não interfere. Qualquer pessoa que for coletada pelos ceifadores não podem ser revividas pela Nimbo-Cumulo, assim como ela não interfere em suas leis e ética.

No meio disso temos Citra e Rowan, dois jovens que foram recrutados para serem aprendizes de um ceifador muito famoso e respeitado, entretanto eles não podem pertencer ao mesmo ceifador e é ai que os segredos de alguns ceifadores e da Ceifa começam a ser revelados.

Jogos de poder podiam ser coisa do passado em outros âmbitos, mas ainda estavam muito vivos na Ceifa.

 

O que mais desejo para a humanidade não é a paz, o consolo ou a alegria. É que ainda morramos um pouco por dentro toda vez que testemunhemos a morte de outra pessoa. Pois só a dor da empatia nos manterá humanos. Nenhum Deus vai poder nos ajudar se algum dia perdermos isso.

Bom, então essa foi uma seleção das minhas frases favoritas do primeiro livro. Ainda vou fazer do segundo livro, pois também há frases pertinentes. E um bônus: Enquanto estava preparando esse post encontrei o seguinte post-it marcando uma das páginas finais com uma cena que me deixou muito surpresa.


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Resenha: As Mil Partes do Meu Coração

18/09/2020


É sempre muito prazeroso ler algo da Colleen Hoover e via os leitores comentado deste livro antes de ele ser lançado no Brasil (e seu título original eu adoro), dai quando saiu aqui eu fui logo lendo, mas a resenha demorou para sair no meu blog pois acabei colocando outras coisas na frente (tipo mais de um ano). De todo modo eu estava esperando um romance mas ela me proporcionou um drama, uma história de auto-reconhecimento, uma família, que eu nunca imaginei que leria nesses últimos tempos.

Merit é uma adolescente que se sente completamente excluída da sua família e até mesmo da sociedade. Um dia ela decide simplesmente abandonar a escola e não se surpreende quando se da conta que ninguém em sua casa (no caso os adultos) notou essa decisão. No meio de tudo isso ela conhece Sagan, que é o suposto novo namorado de sua irmã (gêmea) e Luck, o irmão da sua madrasta — que por acaso se chama Victoria, assim como a mãe de Merit (que mesmo sendo divorciada do pai ainda mora sob o mesmo teto). Sério, lendo assim parece uma confusão daquelas de sessão da tarde mas garanto que o buraco é muito mais em baixo.

E eu amo a Colleen Hoover por fazer esses dramas que confundem nossa cabeça de inicio mas que tudo vai se encaixando ao longo da história. Ela é a autora que sabe como prender um leitor até mesmo no tipo de história que esse leitor não está tão interessado (na época eu nem curtia drama familiar). O desenvolvimento que os personagens tem nessa obra é excelente, principalmente Merit, que ao longo do livro vai descobrindo coisas sobre si mesma que antes negava completamente e dessa forma ela percebe que parte do problema de sua família também é ela e sua personalidade e, claro, tenta reverter um pouco dessa situação, mas como as coisas não acontecem por um milagre é claro que no final envolve ajuda de profissional nisso tudo.

Eu não gostei muito da tradução do livro para o português. Pode-se ver que o nome original tem o nome da protagonista que também há uma tradução literal para nosso idioma (assim como a irmã dela, que se chama Honor). E combina muito mais com a história. Mesmo que houvesse uma tradução literal e que alguns iriam reclamar iria ficar perfeito com os acontecimentos do livro. Enfim, um assunto polemico de tradução e que não faz diferença no prazer da leitura.

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Título: As Mil Partes do Meu Coração (Without Merit) • Autora: Colleen Hoover
Editora: Galera Record • Tradução: Ryta Vinagre
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Resenha: Longe de Casa

14/09/2020


Eu não escondo de ninguém que admiro muito a Malala e quero ler tudo que ela publica, então claro que quando vi esse livro lá na época de seu lançamento fiquei ansiosa para tê-lo em mãos. O que eu não esperava era a tamanha tristeza que sentiria com essa leitura.

Em Longe de Casa temos histórias reais de meninas que são refugiadas. Elas saíram de países do Oriente Médio e Africa (somente um caso é da América do Sul) fugindo de uma guerra, milicia, ou parentes abusivos. São histórias tão tristes, mas ao mesmo tempo nos inspiram a ser melhores.

Eu não esperava uma personagem que se separa da irmã e fica sem vê-la por anos, uma personagem que se sente culpada por ter tido melhores oportunidades do que a irmã, que quase morreu para fugir de seu país. Eu nunca poderia nem pensar em me preparar para uma menina que viu a mãe ser morta a tiros na sua frente por pessoas de religiões extremistas, e claro que nem imagino a falta que essa mãe faz na vida dos filhos.

São histórias chocantes e que me fizeram refletir a respeito da minha realidade. Vivemos em um país que está dividido entre lado politico, mas que apesar dessa tensão ainda tem paz na maior parte dele. Eu posso sair na rua sem medo de um grupo extremista religioso atacar as pessoas, posso sair de casa e trabalhar e estudar, e enfim, tantas coisas que essas meninas não tiveram por muito tempo de suas vidas e coisas que eu nunca nem pensei em dar valor. Pode parecer até absurdo quando pensamos na realidade atual do Brasil, mas ainda assim aqui temos a liberdade que esses lugar nunca sonharam em ter.

É horrível parar e pensar que o que aconteceu com elas está acontecendo com outras pessoas nesse exato momento e o restante do mundo não se importa, e que mesmo as pessoas que param para refletir sobre isso (como eu agora) vão continuar vivendo suas vidas normalmente. É uma realidade que ficam alheia a nós, mas que nem por isso deixam de existir.

Apesar do assunto ser triste a leitura é tranquila. Então ela pode ser indicada para qualquer idade em que a leitora se interesse por esse assunto.


Título: Longe de Casa — Minha jornada e histórias de refugiadas pelo mundo (We Are Displaced: My Journey e Stories from Refugee Girls Around the World) • Autora: Malala Yousafzai
Editora: Seguinte • Tradução: Lígia Azevedo

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Uma graphic novel sangrenta: Lady Killer

10/09/2020

Editora darkside, Darkside books

Apesar de não ser uma leitora de graphic novels é impossível não querer ler essa edição de Lady Killer lançada pela Darkside. As ilustrações estão maravilhosas e as cores super chamativas, é basicamente tudo que um bom encadernado precisa ter para, no minimo, chamar a atenção.

Nesta obra temos Josie, uma dona de casa bem sessentista que é o tempo todo vigiada pela mãe de seu esposo, uma velha alemã rabugenta. Nada do que Josie faz está certo ou bom. O que a velha não sabe é que além de dona de casa Josie é uma assassina de aluguel há mais de quinze anos e ama essa profissão que esconde de todos.

No inicio eu achei que a história seria de uma serial killer que vive se escondendo na fachada de uma família perfeita, mas fico feliz por estar enganada. A trama segue muito mais a questão de profissão x família que, até hoje, temos nas pautas femininas e é super bem abordado na obra. Como disse anteriormente há a sogra chata que julga o tempo inteiro as habilidades de mãe e esposa de Josie, assim como temos um companheiro de trabalho "garanhão" que acha que tem liberdade com a moça, fazendo algumas insinuações sexuais e, claro, aquele chefe machista que acredita que uma mulher não pode fazer o seu trabalho corretamente simplesmente porque tem uma família e filhos. Essas abordagens são sutis na obra e não é o foco, porém se continuar essa abordagem nos próximos volumes irei gostar bastante.

Além do background tem a história de Josie, que começa com uma bela moça se passando por vendedora de Avon e matando uma senhora em sua cozinha. À partir dai acompanhamos a missão que Josie terá de matar uma criança, cujo os pais já foram assassinados, e sua luta interior em decidir se irá ou não cumprir essa ordem. Neste ponto fiquei curiosa para saber o motivo dos pais do garoto terem morrido e a necessidade de a própria criança ter que morrer. Talvez seja explorado, ou talvez não seja um ponto tão importante, já que tudo diz respeito as atitudes de Josie com sua missão.

Existe uma grande quantidade de sangue, obviamente, e nessas horas eu fiquei muito maravilhada com as ilustrações. É tudo muito bem feito e as cores são incríveis. Adoro ilustrações bem contrastadas quando devem ser e claro que Lady Killer pede esse tipo de pintura pela história que nos dá. A edição é linda e vale por si só; no final temos alguns esboços da autora e capas alternativas. Vale a leitura.

Título: Lady Killer (Lady Killer) • Autores: Joëlle Jones e Jamie S. Rich
Editora: Darkside Books • Tradução: Raquel Moritz 

Um Amor Incômodo e as lembranças da primeira infância

04/09/2020

Pode ter certeza que a primeira infância é uma das épocas mais nebulosas de nossas vidas. Muitas vezes acreditamos ter passado por alguma experiencia, mas que não tenha passado de uma peça pregada por nossa mente. Em alguns casos há traumas, medo de algum bicho, ou pessoa, só pelas lembranças estranhas que temos dessa época. Apesar de nem todas as lembranças ou medos fazerem sentido é na primeira infância que está um marco do desenvolvimento do ser humano, seja o motor ou psicológico, e é justamente sobre isso que o livro Um Amor Incômodo da autora Elena Ferrante irá tratar.

Na primeira obra escrita pela enigmática autora italiana somos apresentados a uma mulher de meia idade que logo nas primeiras páginas percebemos que tem uma relação conturbada com a mãe. Para mim deu a impressão da filha ter um desprezo pela mulher, mas que não entende muito bem o motivo. Entretanto com a morte de sua mãe ela precisa cuidar dos ajustes do velório e a desocupação da casa em que ela morava sozinha. Parece ser uma obra dramática essa morte, porém Amalia (a mãe) morreu de uma forma um tanto misteriosa e em busca de respostas Délia (a filha) terá que buscar em suas memórias mais antigas lembranças sobre essa mulher que lhe parecia tão repugnante.

Após a leitura da obra procurei algumas resenhas para assistir no ytube e vi pessoas falando sobre essa livro de uma forma não tão positiva. Talvez por essas pessoas conhecerem outros livros da Elena Ferrante ou por simplesmente não terem gostado, mas particularmente eu amei o livro. Uma mistura de drama com suspense que até onde eu me lembro nunca li antes e principalmente que me deixou presa nessa história com medo do que poderia acontecer com Delia ou pior ainda, uma descoberta totalmente inesperada. Acho que quando pensamos em suspense sempre esperamos um plot twist, mas isso não ocorre aqui, apesar de ter sim uma surpresa no final que alguns poderiam até prever (mas eu não, sou lerda). Este é um livro que irá falar muito sobre relacionamento entre mãe e filha e mais ainda sobre como as filhas se espelham nas mães, desejam ser suas mães, e não entendem (ainda mais na infância) que nós não somos nossas mães.

A história se passa em meados dos anos 90, mas alguns fatos se passam em meados dos anos 50 em uma cidade no interior da cidade onde vemos personagens muito característicos do esteriótipo italiano que conhecemos hoje em dia. O marido de Amalia era um homem extremamente violento e o medo dele era visível em Delia mesmo na vida adulta; Era um homem que desconfiava da própria sombra e descontava tudo na esposa, acreditando que ela era a culpada de seus erros, de sua desgraça, e principalmente acreditando que ela era uma adultera. Enquanto Amalia era somente uma jovem que queria ser feliz, que sentia vontade de socializar com outras pessoas e rir livremente; Mas sofrendo tanto nas mãos desse homem em certo momento foi embora com as três filhas para tentar ser feliz. Não acho que Delia seja ressentida da mãe por isso, mas ela se ressentiu da mãe por outra coisa que nem ela se lembra, e mais do que isso ela se ressente por ter desejado ser sua mãe quando na verdade deveria ser apenas uma criança de 5 anos.

Para ele, aquela risada parecia açúcar espalhado de propósito para humilha-lo. Na realidade, Amalia só procurava dar vozes as mulheres de aparência feliz fotografadas ou desenhadas nos cartazes e revistas dos anos quarenta: boca larga pintada, todos os dentes cintilantes, olhar vivaz. Era assim que imaginava ser, e dera a si mesma a risada adequada. Deve ter sido difícil para ela escolher o riso, as vozes, os gestos que o marido podia tolerar. Nunca era possível saber o que era permitido ou não.

Além do relacionamento familiar de Delia um paralelo é sobre um homem misterioso que seria amigo intimido de Amalia e com quem ela estaria no momento de sua morte: Caserta. Delia lembra dele de sua infância e acredita que tenha visto os dois juntos naquela época então saber que esse homem está de volta na vida da sua mãe é muito perturbador, principalmente porque só a menção do nome dela era causa de tantas e tantas vezes que Amalia foi espancada pelo marido. De modo geral o livro é uma caçada de Delia até encontrar esse homem e confronta-lo para saber o que havia entre ele e sua mãe, só que mais do que isso são as lembranças de Delia retornando aos poucos sobre aquela época. Caserta é um homem misterioso e em poucos momentos sabemos realmente o papel dele na vida de Delia, considerando a sua infância, mas ao mesmo tempo ele é extremamente importante com tudo vindo a tona.

Eu não sei se esse é ou não o pior livro da autora, pois ainda não tive outras experiencias, mas posso afirmar que gostei muito dessa obra e principalmente sobre essa premissa de trabalhar com as lembranças da primeira infância, que muitas vezes não lembramos de nada e quando as coisas vem a tona acabamos ficando surpresos com o que nossa mente esconde para nos proteger.

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Título: Um Amor Incômodo (L'amore Molesto) • Autora: Elena Ferrante
Editora: Intrínseca • Tradução: Marcello Lino

Resenha: Passarinha

02/09/2020


Há um bom tempo queria ler Passarinha, mas nunca surgiu a oportunidade. Quando fui parceira da Valentina o livro não estava disponível para solicitação e acabei que nunca comprei, até que assinei o KU e vi que ele estava disponível e para unir o útil ao agradavel o livro foi a escolha do mês para a leitura coletiva da Abandonados da LC.

Passarinha é um livro emocionante e que não da margem para o leitor se sentir despreparado, até pelo contrário. Caitlin tem 10 anos e é portadora de Síndrome de Asperger e recentemente perdeu seu irmão mais velho, o único que a entendia e a ajudava a compreender melhor o significado das palavras e atitudes das pessoas.


Quando iniciei a leitura de Passarinha achei que ser um livro triste sobre a condição da protagonista e principalmente sobre a morte de seu irmão, mas me surpreendi ao ver uma história delicada sobre uma criança aprendendo a lidar com o luto não apenas pessoalmente, mas de seu pai e de toda uma cidade. Caitlin está sempre aprendendo coisas novas, como a sentir empatia, palavras de educação e o quanto essas coisas podem ser benéficas para a sua convivência em sociedade, mas infelizmente nem sempre funciona como ela planejava já que sua maneira de entender tudo tão literalmente pode atrapalhar ao conversar com as crianças que não tem asperger. Enquanto lida com o luto Caitlin perceber que precisa encontrar um desfecho, não apenas para saber o significado dessa palavra mas para a vida e assim poder seguir em frente junto de seu pai.

O livro é lindo, delicado e um grande aprendizado. Foi minha primeira experiencia lendo uma obra onde a protagonista tem asperger e mesmo sabendo como é a síndrome é diferente ao ler algo em primeira pessoa. O modo como eles vêem e entendem o mundo é tão diferente e única e ao mesmo tempo difícil de compreender para quem esta de fora (nisso eu entendo um pouco o pai dela) que eu cheguei a conclusão que quem precisa ter empatia somos nós "normais" (entre aspas, pois Síndrome De Asperger não é nada anormal) para entender melhor as outras pessoas e todas as suas diferenças.

Passarinha é um livro curtinho e de fácil leitura, apesar de parecer que tem um tema mais pesado a autora soube deixar a história leve para quem quer se emocionar e ao mesmo tempo se sentir feliz pelos personagens. Uma leitura indispensável.

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Título: Passarinha (Mockingbird) • Autora: Kathryn Erskine
Editora: Valentina • Tradução: Heloisa Leal

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